O Ministério da Saúde anunciou nesta quarta-feira (25) o planejamento para a aplicação da terceira dose das vacinas contra a Covid-19 no Brasil. A campanha terá início na segunda quinzena de setembro, contemplando inicialmente as pessoas acima de 70 anos que receberam a segunda dose há pelo menos seis meses e indivíduos imunossuprimidos, como transplantados, pacientes com câncer ou condições que comprometem o sistema imunológico, que foram vacinados há 28 dias. No entanto, os estados do Rio de Janeiro e São Paulo adiantaram o início da campanha (veja informações abaixo).

 

As pessoas imunossuprimidas estão entre os grupos prioritários desde o início da campanha de vacinação. Os grupos são definidos pelo Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO) e podem ser consultados online.

A imunização será feita preferencialmente com a vacina da Pfizer. De maneira alternativa, também poderão ser aplicadas as vacinas da AstraZeneca ou da Janssen, segundo a pasta.

De acordo com o ministério, a decisão acontece após reuniões com a participação de especialistas do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e da Câmara Técnica Assessora de Imunização Covid-19 (CETAI).

Decisão acompanha evidências científicas

Para a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Flávia Bravo, a decisão do Ministério da Saúde acompanha evidências científicas segundo as quais uma terceira dose dos imunizantes pode reforçar a proteção contra a Covid-19.

A especialista explica que as respostas do sistema imunológico dos idosos podem ter menos eficácia devido a um fenômeno chamado de imunossenescência, que é o envelhecimento do sistema de defesa do organismo. “A efetividade de proteção em pessoas acima de 80 anos, e também vemos em pessoas acima de 70 anos, é menor. Os imunodeprimidos também respondem pior ao estímulo vacinal. Isso acontece para todas as vacinas”, disse.

Para Flávia, a circulação da variante Delta e o número elevado de casos da doença também são fatores que tornam a aplicação da terceira dose necessária. “Temos dados que mostram a perda de proteção com algum tempo. Para uma proteção maior dessa população, que é, em todos os países do mundo, a que mais adoece com gravidade, interna e morre de Covid-19, é preciso priorizá-la num primeiro momento”, acrescenta.

Intercambialidade entre vacinas

Para a diretora da SBIm, a decisão do Ministério da Saúde de priorizar a aplicação da vacina da Pfizer como terceira dose tem como base resultados recentes de estudos científicos.

“Já existem resultados divulgados e discutidos em relação à intercambialidade entre as vacinas. Para a vacina da AstraZeneca, já está publicado um estudo que mostra uma resposta de anticorpos melhor com a aplicação da Pfizer. Já existem estudos acontecendo também para a Coronavac, testando a intercambialidade para todas as vacinas”, disse.

Segundo Flávia, a intercambialidade entre as vacinas não deve ser motivo de preocupação. A especialista recomenda que as pessoas tenham a mesma atenção aos sinais adversos que tiveram após a aplicação da primeira e segunda doses.

Para a infectologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, Carla Kobayashi, a opção pela Pfizer também considera o suprimento de doses dos imunizantes disponíveis no país.

“A vacina da Pfizer é a que tem um maior número de doses chegando ao Brasil e que serão disponibilizadas para a vacinação nos próximos meses. Temos uma limitação com a Coronavac, por conta de um componente de exportação da China, por exemplo”, afirma Carla.

Possibilidade de expansão da terceira dose para outros públicos

A diretora da SBIm, Flávia Bravo, explica que a expansão da campanha de vacinação com a terceira dose para outras faixas etárias e outros grupos prioritários depende de evidências científicas mais robustas. “Dependendo da situação epidemiológica, se verificarmos, com o tempo, a perda de proteção para outros grupos, tendo vacina disponível, isso será estendido. O acompanhamento epidemiológico e a ciência vão dizer”, afirma.

A especialista explica que aplicação da terceira dose neste momento é como um ajuste, com o objetivo de impulsionar a capacidade de proteção dos grupos mais vulneráveis.

“A terceira dose é um ajuste do esquema recomendado, só o tempo nos dá essa resposta. Isso já aconteceu anteriormente para outras vacinas. Quando surgiu a da hepatite B, acreditava-se que seriam necessários reforços. Hoje, sabemos que não, apenas para a população imunodeprimida”, explica. “O conhecimento evoluiu para alterarmos a recomendação. Para as vacinas da Covid-19, é um ajuste de acordo com a realidade, com a epidemiologia e o surgimento de variantes. Tudo isso que temos observado permite ajustar o esquema”, completa.

Estudos sugerem necessidade de terceira dose

Após a conclusão das análises de segurança e eficácia, pesquisadores em todo o mundo buscam entender quanto tempo dura a imunidade conferida pelas vacinas contra a Covid-19. Resultados de estudos recentes apontam que as pessoas imunizadas podem apresentar um declínio na quantidade de anticorpos neutralizantes cerca de seis meses após a aplicação da segunda dose.

Embora o sistema imunológico conte com outros mecanismos de defesa contra a infecção, como a resposta celular, pesquisadores sugerem que uma dose de reforço possa tornar a resposta imunológica mais robusta e garantir maior capacidade de proteção, especialmente contra a variante Delta, altamente contagiosa.

Um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto do Coração (Incor) e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) sugere a necessidade de uma terceira dose para imunizados com a Coronavac a partir de 55 anos. A pesquisa foi feita com 209 pessoas e revelou que a resposta ao vírus nos indivíduos que tomaram as duas doses da vacina é bem menos intensa, principalmente na maior parte dos homens com mais de 55 anos. O estudo realizado a partir da análise de amostras de sangue apontou que apenas um terço dessa população tem uma resposta forte de anticorpos. Além disso, a resposta mais baixa se acentua a partir dos 80 anos.

Um outro estudo publicado na revista Science revelou que, ao longo de sete meses, a quantidade de anticorpos produzidos pela vacina de RNA mensageiro da Moderna apresentou uma redução. No entanto, a pesquisa que avaliou os impactos de diferentes variantes do novo coronavírus mostrou que a maior parte dos indivíduos manteve anticorpos, ainda que em níveis mais baixos com o passar do tempo.

Um estudo realizado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, mostrou que a efetividade da vacina da Pfizer reduziu em comparação com a prevalência da variante Delta no país. A efetividade da vacina após a segunda dose reduziu mais rapidamente comparada à da AstraZeneca, que mostrou poucas alterações na análise.

Estados definem calendários de vacinação

O governo de São Paulo vai iniciar a aplicação da terceira dose da vacina contra a Covid-19 a partir de 6 de setembro para idosos com mais de 60 anos. O anúncio foi feito em coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes nesta quarta-feira (25). O reforço vacinal só poderá ser feito após seis meses da aplicação da segunda dose.

A Secretaria Municipal do Rio de Janeiro vai iniciar a aplicação do reforço contra a Covid-19 dos idosos no dia 1º de setembro. Os primeiros a receber a terceira dose são os mais de 7 mil residentes em asilos. A cidade de Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, pode ser a primeira do Brasil a aplicar a terceira dose da vacina contra a Covid-19 em idosos. A cidade prevê iniciar essa etapa da vacinação a partir desta sexta-feira (27).

Terceira dose no mundo

A aplicação da terceira dose contra a Covid-19 já é uma realidade em diferentes países, como Estados Unidos, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, França, Israel, República Dominicana, Rússia e Uruguai.

Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça que os países devem aguardar a aplicação da terceira dose até que um maior número de pessoas tenha sido imunizado com pelo menos uma dose das vacinas. Em anúncio à imprensa realizado na segunda-feira (23), o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que a prioridade deve ser dada ao aumento dos índices de vacinação em países onde apenas 1% ou 2% da população recebeu os imunizantes.

Fonte: Cnn Brasil

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